Friday, April 13, 2007

pioneiros da 'Digital Art' I



Os conceitos fundamentais que caracterizam a arte digital foram sendo desenvolvidos ao longo do tempo por vários artistas em numerosas experiências e instalações.

Duchamp


O trabalho de Duchamp foi particularmente importante como impulsionador da arte digital. A passagem do objecto ao conceito pode ser visto como um predecessor do ‘objecto virtual’ como uma estrutura em transformação, e os seus ready-mades estão relacionados com conceitos de apropriação e manipulação de ‘found images’, que são um elemento destacado de muitas obras de arte digital.

Isto porque quando observamos a obra de Duchamp não ficamos boquiabertos, não há o maravilhar, o embate estético que acontece quando nos deparamos com outras obras-primas. A sua obra exige do espectador reflexão, meditação. Não apela aos sentidos, apela à imaginação, porque a obra de Duchamp é uma anti-arte, uma anti-obra. Duchamp inventa um novo tipo de arte e simultaneamente um novo tipo de espectador.

Na realidade o pensamento/obra de Duchamp é caracterizado fundamentalmente pela separação entre Arte e Visão. Octávio Paz, diz que “Duchamp mostrou-nos que todas as artes, sem excluir a dos olhos, nascem e terminam em uma zona invisível. À lucidez do instinto opôs o instinto de lucidez: o invisível não é obscuro nem misterioso, mas transparente...”. ~

Duchamp é o responsável pelo conceito de ready made, o transporte de um objecto da vida quotidiana para o campo das artes. Em conjunto com outros artistas, entre os quais, Francis Picabia e Henry Roché, Duchamp pasou a incorporar material de uso comum às suas esculturas, e em vez de os trabalhar artisticamente, simplesmente os considerava prontos e os exibia como obras de arte. A Fonte é exemplo disso, sendo a obra pela qual é mais conhecido. Outro exemplo é a obra L.H.O.O.Q (sigla que lida em francês assemelha-se À frase “Elle a chaud au cul”, “Ela tem fogo no rabo”), que não é mais que a uma reprodução da Mona Lisa de Leonardo Da Vinci acrescida de bigodes e barba. E de certo modo deste modo, com a sua poética singularíssima, leva adiante a definição de Leonado Da Vinci de que a arte é uma coisa mental. Duchamp sem transformar nada fez que tudo pudesse ser arte.



As noções de interacção e virtualização na arte foram sendo explorado desde cedo por artistas como Duchamp ou mesmo László Moholy-Nagy, sobretudo da relação dos objectos com os seus efeitos ópticos.
Duchamp dedicou-se ao estudo da 4ª dimensão, o que orientou o seu trabalhopa o estudo dos problemas ópticos. Os Rotoreliefs são resultado prático desses estudos. Eram discos coloridos que quando girados com muita rapidez produziam efeitos ópticos.



Rotary Glass Plates é um aparelho motorizado que demonstra a continuidade das impressões visuais. Os seus 5 suportes de vidro estão pintados de tal modo que quando são colocados em movimento e observados num movimento contínuo, a máquina forma círculos concêntricos num mesmo plano. Cerca de 8 anos de construir este aparelho Duchamp leu vários tratados sobre matemática e percepção, de tal modo que várias das suas obras de arte estão relacionadas com máquinas rotativas. Rotary Glasses Plates foi a primeira máquina que Duchamp realmente construiu na sua busca por um novo mundo que não mais separasse a arte do conceito.
Este aparelho exigia a interacção do público, uma vez que convidava a audiência a girar o aparelho e observa-lo a uma distância de cerca de 1 metro, de modo a poder ver o efeito visual produzido pelo movimento.

De certo modo a obra de Duchamp transita na linha abissal e milimétrica que separa a banalidade da transcendência, o visível do invisível. Uma obra que não está nos museus, mas entranhada na nossa cultura, nomeadamente na arte digital.

VER:
The Marcel Duchamp Studies Online Journal
Understanding Duchamp



László Moholy-Nagy


Moholy-Nagy foi outro dos pioneiros da arte digital, com as suas experiências artísticas deu inicio a alguns conceitos que dirigiriam daí para a frente a arte digital.

Moholy-Nagy foi fundamentalmente um pintor. "It is my gift to project my vitality, my building power, through light, colour, form. I can give life as a painter," escreveu ele. Algumas das suas primeiras experiências visuais acabaram por ser um retorno aos fundamentos da arte, explorando as relações de cor, forma, posição colando tiras coloridas de papel sobre fundos de tons variados. Uma das características que atraiu Moholy-Nagy para o construtivismo foi a sua tendência para expressar as formas puras da natureza: a cor directa, o ritmo espacial, o equilíbrio da forma.

Simultaneamente estava fascinado pela cidade, as fábricas, o desenvolvimento industrial, a paisagem do início do século XX. Moholy-Nagy estava fascinado pela ideia do dinamismo do progresso, de mecanização, as inerentes possibilidades abertas pelos novos materiais. Como escreveu numa revista vanguardista de Viena: "Everyone is equal before the machine. I can use it; so can you. It can crush me; the same can happen to you." E de certo modo esta reflexão sobre as novas tecnologias era profética.

Moholy-Nagy estava fascinado pela produção mecanizada de obras de arte, numa atitude de ridicularização da tradicional visão da obra de arte como criação individual do artista. Neste sentido este fez diversas experiências artísticas de entre as quais Telephone Paintings, em 1922. Moholy-Nagy percebeu que os avanços tecnológicos na fotografia e filme acabariam por transformar social e culturalmente os valores do século XX, e trabalhou também com este meios.

Moholy-Nagy fez também parte da Bauhaus e foi inclusive o seu chefe de publicidade, desenhando o layout das suas publicações e dirigindo a tipografia dos livros da Bahaus, criando alguns dos princípios fundamentais do design de comunicação desta escola, através da nova tipografia usando formas de letras simples e modernas, com cores fortes, intrigantes combinações de texto e fotografia.

Foi também na Bauhaus que começou um dos seus projectos mais importantes e que mais influenciou a arte digital. Uma ‘kinetic sculpture’ composta de cor, luz e movimento: a luz como ‘performance art’. O ‘light prop’ tem a forma de uma caixa, em forma de cubo, que tem um vidro e mecanismo de metal. Tudo isto desenhado para estar sozinho numa palco escuro. A audiência observa através de uma abertura na caixa, e a máquina responde automaticamente com uma sequência de 2 minutos de iluminação criada por 115 lâmpadas coloridas a piscar.



Entre 1929 e 1937 criou vários pequenos filmes, quase todos em formato de 16 mm. O mais conhecido foi feito por volta de 1930 e é chamado “Lichtspiel Schwarz Weiss Grau”, regista os movimentos e efeitos de luz produzidos pelo ‘Light Space Modulator’, uma das ‘Kinetic sculptures’ que ele desenhou.

De certo modo o ‘Light Space Modulator’ foi uma obra multimédia visionária que ajudou a inaugurar o diálogo artístico entre máquinas, luz, sombra e movimento.

VER:
Kinetica Museum
The Moholy-Nagy Foundation

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